Nos últimos dias, muitos posts no LinkedIn têm atribuído demissões recentes ao avanço da Inteligência Artificial

Nos últimos dias, muitos posts no LinkedIn têm atribuído demissões recentes ao avanço da Inteligência Artificial. Mas até que ponto isso é verdade? Salvo casos pontuais, o que se vê é mais uma narrativa, amplificada por líderes tecnológicos e pela mídia, do que uma realidade comprovada por dados.

Estudos acadêmicos recentes pintam um quadro bem diferente, o de estabilidade e adaptação gradual. Por mais avançada que a IA generativa pareça, seu impacto estrutural no mercado de trabalho ainda é limitado.

A pesquisa mostra pouca evidência de que ferramentas como o ChatGPT estejam eliminando empregos em larga escala. Em outras palavras, não estamos diante de um apocalipse de empregos, mas de um processo semelhante ao que vimos com a adoção de computadores nos anos 80 ou da internet nos anos 90, com transformações relevantes, mas assimiladas de forma progressiva.

Há quem diga que a IA estaria fechando portas para jovens graduados. Mas os dados sugerem o contrário, que as dificuldades enfrentadas pelos recém-formados estão muito mais ligadas a dinâmicas econômicas já conhecidas do que à substituição tecnológica. Culpar a IA por problemas estruturais do mercado de trabalho é uma simplificação perigosa.

O economista do MIT e Prêmio Nobel Daron Acemoglu acrescenta a visão crítica que existe hoje uma pressão sobre gestores para “fazer algo com IA”. Esse hype é alimentado tanto por expectativas de investidores quanto pelo interesse comercial das próprias empresas de tecnologia, que se beneficiam ao ampliar a demanda por suas plataformas e infraestrutura. O risco é que essa espiral de entusiasmo distorça percepções e leve a decisões apressadas de investimento.

Isso não significa subestimar a importância da IA generativa. Ela já está redefinindo setores específicos, principalmente no campo tecnológico. Mas afirmar que já vivemos uma revolução no emprego é, no mínimo, precipitado.

O verdadeiro ponto de atenção não é um desemprego em massa iminente, mas sim a necessidade de uma análise sóbria e baseada em evidências. A prioridade deve estar em três frentes, a de monitorar de forma contínua e com dados confiáveis como a IA afeta ocupações em diferentes setores, investir em requalificação profissional, preparando trabalhadores para funções que combinam habilidades humanas com capacidades de IA e evitar narrativas simplistas, que transformam expectativas em profecias autorrealizáveis e alimentam ciclos de hype mais do que mudanças reais.

O futuro do trabalho não será escrito pelo medo de substituição, mas pela capacidade de integrar tecnologia e pessoas em novos modelos de produtividade. O desafio está menos em “sobreviver” à IA e mais em aprender a usá-la de forma estratégica, responsável e alinhada às necessidades reais da economia.

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