Continuando… por que o Bitcoin é tão temido?
Como foi explicado na parte 1, (clique aqui e assista) o que é o Bitcoin (BTC), passarei a falar, rapidamente, a respeito da natureza jurídica e ideológica, que, para muitos, seria uma “nova moeda descentralizada” de governos e autoridades estatais, já, para outros, seria uma “reserva de valor”, pois, inegavelmente, possui elevado valor econômico. Tanto é que, no momento em que escrevo essa matéria, cada unidade de BTC está valendo em torno de US$ 20.000,00 (vinte mil dólares americanos), ou, aproximadamente, R$ 100.000,00 (cem mil reais). E, embora o BTC, de fato, possua elevada oscilação de preços, isso não impede que seja negociado livremente entre pessoas e instituições na Internet, no mundo inteiro, tratando-se de um ativo que desconhece fronteiras geográficas e culturais.
Agora que você sabe o que é e por que foi criado o Bitcoin, passarei a explicar melhor quais são os motivos reais que levam esta criptomoeda a sofrer tantos ataques e críticas, que, por vezes, soam injustas e inverídicas e, igualmente, demonstrarei com FATOS o que está por trás dessas narrativas e “notícias” veiculadas. Começarei pelo fim, ou seja, falando sobre as críticas mais recentes, aquelas que alegam e apontam um suposto e exacerbado consumo de energia utilizado pelo BTC para a efetivação de suas transações, o que tem sido a bola da vez, atacando a reputação e influenciando a opinião pública para tentar regular esse criptoativo em âmbito mundial.
Não se enganem, o Bitcoin é verde!
Como já dito, para que o sistema do BTC faça a engrenagem da sua Rede seguir seu curso natural, existe um grupo especial de participantes, que são os fundamentais responsáveis por esta construção (formação dos blocos da cadeia Bitcoin), os chamados “mineradores”, que realizam a tarefa de “fechar o bloco da cadeia”, por meio de cálculos matemáticos e, assim, o primeiro deles que conseguir chegar ao número certo, bingo, recebe como recompensa alguns Bitcoins[1]. Contudo, esse processo computacional realizado, atualmente, por potentes processadores, obviamente, gera um considerável gasto energético, aliás, como toda e qualquer operação de processamento computacional, mecânica ou mesmo elétrica, realizada em determinada escala. Isso ocorre porque durante essa mineração feita por computadores, os processadores trabalham em unidades significativas e em considerável intensidade de processamento para que se alcance o resultado necessário, que é justamente chegar ao “número mágico” para executar a operação matemática para a construção no bloco em que se encontram as transações do abissal livro caixa, já explicado na primeira parte desta conversa.
Portanto, a partir desta premissa, sim, verdadeira, a “mineração” do BTC, realizada pela chamada prova de trabalho, conforme explicado, o que a torna muito segura e confiável, e, inevitavelmente, repercute em gastos de energia. Porém, honestamente, a energia é utilizada também em todos os setores econômicos e de forma mais elevada.
Todavia, surgiram fortes críticas e notícias que o BTC seria muito nocivo ao meio ambiente e que sua mineração deveria ser combatida por supostamente: a) gastar muita energia; b) provocar muita emissão de poluentes (CO²).
Contudo, embora essas duas premissas invocadas sejam efeitos negativos do uso desta tecnologia e de qualquer outra, como dito, estariam equivocadamente atreladas ao lado do uso de fontes energéticas não renováveis. Deste modo, você, provavelmente, deve ter assistido ou lido na mídia alguma coisa a respeito dos “graves impactos negativos ambientais” decorrentes da mineração de BTCs.
Nem tudo o que reluz é ouro!
Como diz outro velho ditado, que “nem tudo o que reluz é ouro”, além das críticas ignorantes e infundadas de grande parte das notícias que rodam por aí, o que pode significar falta de conhecimento do assunto, já que, historicamente, o que não é bem compreendido pode ser perseguido e contestado, pois o ser humano costuma temer o que desconhece.
Porém, o que mais me preocupa são as ditas fontes “informativas” que parecem conter “cargas tendenciosas” e que, por trás das cortinas do alegado interesse público, na verdade, há aquelas que buscam atender a uma série de interesses que vão desde os dos patrocinadores, audiência (sensacionalismo puro), etc., utilizando-se, atualmente, dos supostos “males do BTC” no impacto ambiental.
Eis o salva-vidas da realidade: os fatos!
Parto do óbvio, repetindo que toda e qualquer atividade econômica ou tecnologia se converte em algum impacto ambiental e que toda intervenção humana no meio ambiente resulta em impactos e danos a este, todavia, as questões centrais que temos que ter em mente são:
Qual o tamanho deste impacto e qual seria a dimensão desses danos ao meio ambiente em comparação com players paritários?
Vejamos as notícias divulgadas, aquelas que estão circulando nos principais meios midiáticos mundiais, que trazem um grande desacordo lógico frente à racionalidade do impacto ambiental gerado pelo BTC, pois invocam e alegam, por vezes, comparações e medições desonestas entre agentes, visto que, em diversas matérias jornalísticas, há avaliações equivocadas, como, por exemplo, “notícias” em que há a informação comparativa do consumo energético da Rede BTC com o consumo de um ente ou órgão, que nada tem que ver com o criptoativo!
Tomando como exemplo matéria que ilustra o título “Gasto energético do Bitcoin é o mesmo da Argentina”. Ora, seria razoável a comparação do gasto do BTC com o consumo energético de um país? Mais, uma nação substancialmente agrícola, em plena decadência econômica, implicaria, inevitavelmente, em queda no consumo energético? Óbvio que não. Porém, tais fatos não impedem que a mencionada manchete sensacionalista provoque, de imediato, um alarme irracional na opinião pública, essa claramente desinformada. Deste modo, surgiriam expressões de espanto, de “como poderia uma criptomoeda consumir mais energia que um país?” E por aí vai…
Todavia, não se deixe enganar pelas meras aparências. Como falei, as métricas comparativas são totalmente equivocadas, visto que, se o BTC é uma Rede mundial de transações de dados, não poderia ter seu consumo energético comparado a um consumo regionalizado, por este último ser local, ainda que de um país. A par disso, conforme comentei e é público e notório, país que se encontra em franco declínio econômico, estando hiperinflacionado e não sendo uma nação industrial, que, por consequência, provavelmente, não teria um crescimento de energia substancial para que eticamente pudesse ser comparado com um sistema global de processamento, que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Além do mais, repito, é desonesto comparar o consumo de energia de coisas tão diversas!
Portanto, uma comparação mais justa e ética seria a do consumo do BTC com o realizado, em cenário mundial, por determinado setor equivalente ou equiparável a sua atividade precípua. A comparação seria de quanto ambas gastariam de água e de energia para serem produzidas, tanto em termos quantitativos, quanto de classificação.
Assim, seria razoável comparar o BTC com uma funcionalidade próxima, como o sistema financeiro ou bancário e, aí a verdade dos fatos escancara o nude ético e a inverdade dessas notícias, em sua maioria, muito equivocadas.
Gasto energético do BTC frente ao setor bancário/ financeiro
O gasto energético do Bitcoin, em 2019, que foi, aproximadamente, de 122 TWh (terawatt-hours) anuais, representa apenas 45,3% do gasto total do sistema financeiro mundial, que foi de 260 TWh por ano[2]. Entretanto, se a título de grandeza compararmos o consumo de energia do BTC com o consumo total mundial, a insignificância da mineração Bitcoin fica ainda mais evidente, sendo cerca do percentual pífio de 0,07 % do consumo de energia da economia mundial, que foi de 173.340 TWh anuais. Isso por usarmos uma fonte que superestima o consumo de energia pelo BTC, já que há outras fontes de informação que apontam que o consumo geral de energia da Rede Satoshi seria de 89 TWh anuais.
Portanto, a essa altura, você já está se perguntando, se o gasto energético do BTC não é tão elevado se comparado a outras fontes equivalentes, ao contrário, é menor que em setores concorrentes, então, por que há tantas críticas e reprovação ao protocolo usado pela Rede? A resposta será revelada, em doses homeopáticas, e você poderá tirar suas próprias conclusões, com base nas evidências e nos fatos e não apenas em retóricas e argumentos vazios.
Autor: Elvis Davantel, sócio da advocacia Camargo Tietzmann e Davantel;
Revisora: Marisa B.R.C. Tietzmann, sócia e fundadora da advocacia Camargo Tietzmann e Davantel
Artigo publicado originalmente em: https://advocaciactd.com.br/2022/11/01/entenda-por-que-o-bitcoin-btc-e-alvo-de-ataques-da-midia-tradicional-e-dos-governos-parte-2/
Fontes:
[1] Encontrei uma explicação bem simples e compreensível para leigos a respeito do que é a “mineração” dos Bitcoins: “Mineração Bitcoin é o processo de utilização de computadores para realizar cálculos matemáticos para confirmar as transações da rede Bitcoin e aumentar a segurança. Como recompensa por seus serviços, os mineiros Bitcoin podem receber as taxas das transações confirmadas além de novas moedas criadas em cada bloco. A mineração é um mercado especializado e competitivo em que os benefícios são partilhados de acordo com o número de cálculos que processados. Nem todos os usuários Bitcoin são mineiros e não é uma maneira fácil de ganhar dinheiro. (Fonte na Web: https://bitcoin.org/pt_BR/vocabulario#mineracao>, acesso às 21:59m, São Paulo, Brasil)”.
[2] Fonte na web: < https://cointelegraph.com.br/news/banking-system-consumes-two-times-more-energy-than-bitcoin-research>, acesso às 19h:44m, 19/10/2022, SP, Brasil.
Advogado especializado em aplicações jurídicas no âmbito do uso de tecnologias como blockchain e IA e atuante como profissional na área de proteção de dados pessoais e compliance, de perfil: Liberal, cristão e lutador pelas liberdades individuais e do bem estar público com a coexistência do mínimo possível, se não, a ausência do Estado.