E tem gente que ainda acha que a desindustrialização não é um problema

E tem gente que ainda acha que a desindustrialização não é um problema…

Nesse fim de semana, vi um tweet (ops – tweet era antes, agora é o que?) do professor Paulo Gala sobre o processo de desindustrialização no Brasil que faz com que a nossa indústria de transformação tenha crescido meros 14,5% nos últimos 28 anos (!) e esteja 17% abaixo dos níveis de 2011.
Esse é um cenário extremamente preocupante que afeta especialmente a indústria química, como “a indústria das indústrias” como sempre nos lembra a ABIQUIM – Associação Brasileira da Indústria Química.
Será que o Brasil irá se tornar um mero exportador de commodities? E alguns podem pensar – e aí, que mal tem nisso?
Três motivos. Primeiro e mais importante, a nossa escolha agora irá determinar o padrão de vida dos anos vindouros, que serão determinantes para as novas gerações. Se a indústria não volta à um crescimento robusto o gap entre nós e os outros países – os ricos e aqueles de renda média, vai se aprofundar, o que tornará ainda mais difícil o nosso crescimento pela perda de competitividade global.
O segundo é que sem uma indústria desenvolvida e sem serviços sofisticados, mesmo o nosso agronegócio pop não será sustentável no longo prazo. Exportamos o grão do café e importamos uma cápsula da bebida 60 vezes mais cara! O petróleo retorna como gasolina e produtos químicos que está matando nosso segmento. Eliezer Batista, uma das figuras mais lembradas quando se fala de petróleo no Brasil, costumava dizer: “Não adianta ser um pavão na favela”.
O que torna poderosas as empresas (e a economia) dos países ricos? Poder de mercado e concorrência imperfeita – é isso que garante os maiores lucros. Empresas valiosas são aquelas cujos produtos tem “nome”: Iphone, Windows, Amazon, LG, Siemens, IKEA. Nessas companhias, os preços são estabelecidos em uma reunião da diretoria de marketing. Já quando se vende produtos commoditizados, que hoje podem ser lucrativos, mas amanhã não, os preços são aqueles que você lê no site da bolsa.
O terceiro ponto é a questão estrutural do papel da indústria. Uma indústria competitiva aumenta o nível salarial médio da mão de obra, aumenta o investimento em P&D, melhora a cadeia do comércio. Atividades com alta incidência de inovações tecnológicas e sinergias, são fortemente indutoras de desenvolvimento econômico.
Não podemos ficar inertes com o que está acontecendo. A indústria tem que retomar o seu crescimento e a sua sustentabilidade. O MDIC está discutindo o tema com diversos segmentos. Brasília está pensando o papel do Estado no desenvolvimento da indústria. Países da Europa, os Estados Unidos, a Índia e, por óbvio a China, já fizeram isso há muito tempo.
Essa pode não ser uma visão consensual. Mas, como dizia Churchill, “estude história. Na história estão todos os segredos da política”.

Por: Milton Rego